O contador de estrelas
Rosângela Trajano Ele só sabe contar estrelas? É pouco para um menino cabeçudo. Podia ocupar-se com outras coisas mais importantes: aprender a ler, fazer teatro na escola ou estudar música. O importante é contar estrelas, porque elas precisam ter orgulho de saber que são muitas! Não peçam mais nada a ele, só sabe contar estrelas com seu olhar de caroço de azeitona que não combina nada com o rosto. Quieto, apenas o vento movimenta seus cabelos e a respiração mexe sua barriga, só isso. E as estrelas sendo contadas assim, com um coração que faz tic-tac, tic-tac, tic-tac, 90 vezes por minuto. E contar estrelas é a única coisa que sabe fazer, além de contar estrelas. Às vezes de trás pra frente: 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1. Às vezes de frente pra frente: 101, 102, 103, 104… Ele sobe no telhado de casa e sentado começa a contar as estrelas com seu dedinho indicador. É o único menino no mundo que sabe quantas estrelas tem no céu, mais ninguém. Até durante o dia ele conta as estrelas. A quantidade de estrelas que tem no céu está anotada no solado do seu sapato. Às vezes é preciso usar a borracha e anotar um novo número de estrelas. Assim como nos custa esquecer uma pessoa que morre, as estrelas custam a se apagar depois de já terem morrido. Contar estrelas não é coisa fácil. Devia ter uma faculdade para formar contadores de estrelas. Nas contas do contador de estrelas a estrela Dalva é a 1.303.987.000. Ele sabia que ela dormia durante o dia e à noite gostava de olhar as coisas na Terra. Um dia, a estrela Dalva segredou ao menino que queria ser lâmpada em poste de iluminação pública. Para contar estrelas havia de comer muito feijão com arroz, afirmava o contador de estrelas. Em agosto de 1972, pelas contas do contador de estrelas, havia mais de um bilhão de estrelas no céu e uma no bolso do seu calção. Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 11/10/2019
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