O negócio sujo
Rosângela Trajano
Mamãe gosta das suas coisas tudo certinhas, ela diz que a palavra de uma pessoa vale mais que um papel assinado. Pois bem, assim sendo fez negócio com uma amiga e comprou junto com ela umas coisinhas para ajudar uma pessoa. A amiga de mamãe disse que pagaria assim que recebesse o seu pagamento que seria no dia 07 do mês seguinte. Mamãe ficou toda feliz por fechar o negócio, pois com isso ajudaria uma pessoa que tanto precisava dela. Não era luxo, não era coisa chique, era uma precisão o que comprou junto com a sua amiga, um colchão d’água para o seu irmão dormir e mais uma feirinha para ajudá-lo na despesa do mês. Os dias se passaram e eu sempre avisando a mamãe que a sua amiga tinha jeito de caloteira e não ia pagar-lhe. No começo, mamãe me repreendeu dizendo que a amiga não faria isso com ela. Eu fiquei quieta. Os dias passando, devagarzinho, noite e dia, dia e noite, a minha mãe lavando roupa, varrendo a casa e passeando aos domingos, tudo normal. Foi só chegar o dia 07 no calendário para ela vir falar-me, toda tristonha - Rosângela, que dia é hoje? - 07, mamãe. - Aquela danada esqueceu o meu pagamento! Para mamãe a amiga não pagou por esquecimento. Era melhor esperar mais uns dias. E assim fez. Passaram um, dois, três, quatro dias e nada da amiga ligar sequer para dar satisfação sobre o dinheiro que devia a mamãe. Depois de vinte dias, ela começou a reclamar de que negócio é negócio, que só faz negócio quem pode, e começou a falar da amiga pelos cantos, falava até mesmo quando estava sozinha, do meu quarto eu só ouvia ela falar como se estivesse conversando com alguém. Para colocar mais lenha na fogueira resolvi comentar - Eu disse que ela tinha cara de caloteira. - Parece que sim, Rosângela. - E agora? - Deus é minha testemunha. Vou ficar quieta. Um dia ela me paga. Mamãe foi enganada pela própria amiga e nunca mais quis ligar para ela. Ficou triste. Disse que quando faz um negócio com alguém não é porque seja rica, mas porque sabe que deve ajudar a quem precisa. Que rica é da graça de Deus porque não vive nas portas dos outros pedindo nada emprestado, não deve a ninguém, não usar cartão de crédito e por aí vai a reclamação. Eu achei melhor ficar calada dessa vez. Mamãe já estava muito magoada com a amiga, mas disse que ia perdoá-la, afinal gostava muito dela, eram como irmãs. E olhe que as irmãs de mamãe nunca gostaram de fazer negócios com ela, pois sabem como ela é brava igual um siri numa lata. Só sei que, às vezes, no meio da madrugada escuto mamãe sonhando e falando - Pague meu dinheiro! Acho que é com a amiga, só pode ser. Ela fala, dá um ronco, se mexe na rede e volta a ficar quietinha. Isso a noite toda. E ainda reclama quando acorda que passou a noite sonhando com anjinhos e não conseguiu dormir direito.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 13/10/2019
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