Mamãe, por que cresci?
Rosângela Trajano
Sinto saudades do meu tempo de criança. Daqueles dias em que tudo se resumia em uma divertida brincadeira. Recordo-me dos amigos do jardim de infância, das cantigas de roda, das minhas bonecas de panos... Ah! Tomara que não comece a sonhar demais e novamente caia da cadeira, porque é sempre assim que acontece comigo, caro leitor. É o velho hábito de sonhar acordada, de ficar buscando lembranças antigas, de guardar coisas materiais como símbolo de um determinado momento. Quisera eu voltar a ser criança. Mamãe, por que cresci? Por que tive que largar minha infância que tanto amava para enfrentar esse mundo cheio de problemas e sem tempo para nada? Até mesmo para escrever este texto tive que o fazer numa pressa tremenda. Dê-me uma resposta, Mamãe, que me satisfaça ou recrimine aqueles que ofendem-me dizendo que não sou mais uma criança para agir como tal. Não irei questionar, aqui, o motivo de não poder ir mais aos shoppings centers, e ficar horas e horas me divertindo com os brinquedos e jogos infantis ou ter sempre à cabeceira da minha cama o livro “O Pequeno Príncipe”. Dizem que deveria deixar de chorar com as perdas e aceitá-las como adulta. Ora, não me digam que um ser humano é capaz de perder e não sentir nada. Choro, berro, esperneio, fico rocha, tapo o nariz. Faço tudo o que me dá na cabeça. Que me tachem de louca... Acredito que a maior loucura da vida é matarmos a criança que existe dentro de nós. Sabe, eu não queria estar, agora, sentada diante deste computador. O colo da mamãe é muito mais confortável! Assim como o é, também, meu velho velocípede abandonado no sótão da minha casa, muito mais belo do que meu carro atual! As canções de ninar da mamãe são mais suaves que as músicas do meu aparelho de som! Quando criança tinha hora para comer, hoje, chego ao restaurante e nem sei direito o que quero. Certa vez, quis pedir um mingau morno, igual ao da mamãe. Contive-me, tenho certeza de que o garçom iria me achar uma tola. Mamãe, ontem, você convidava-me para sentar à poltrona e ouvir seus conselhos. Eu ficava triste, e jurava não fazer mais nada errado. Hoje, na empresa, meu chefe chama-me à sua sala, sento-me a sua frente e ele começa a dar ordens. Faça isso, faça aquilo. Nada parecido com você, mamãe. Nem mesmo sua sensibilidade aguçada, a doce voz, o sorriso impecável e a paciência de “Jó”. De tudo ficaram saudades. Embora tenha crescido, ainda me acho uma criança. E quero continuar assim. Peço a você, querido leitor, que não me critique como fazem as pessoas que são apenas uma metade. Convido-o a se entregar comigo nessa visão da vida, porque estar vivo é manter dentro de si cada fase do ser humano. Preciso fazer uma algazarra ainda nesta noite. Peço-lhe silêncio, caro leitor. Mamãe dorme, vou entrar em seu quarto e colocar uma rosa sob sua escrivaninha. Eu o convido, venha comigo.... rosas às nossas mamães.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 14/10/2019
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