Cheguei em mim
Rosângela Trajano
Cheguei em mim Como se volta de lugar nenhum Em planos desordenados Quis ver a vida de outras formas Mas a vida não tem outras formas A vida é tal qual como se apresenta Descobri que viver basta para muitos No entanto, para mim, viver é pouco Quero o rosto dos anjos Nos porta-retratos dos meus anseios Olhei-me buscando o movimento Corpo fugitivo de suas vontades Cheguei em mim Pela porta de trás E a cozinha estava suja Há de se sujar cozinhas em casas vazias? Quero para mim o cheiro das flores Trouxe o mês de janeiro para casa Porque em janeiro vi estrelas Dei alimentos aos gatos Lavei o vaso dos meus enganos Sonhei todos os sonhos possíveis Loucos sonhos de quem ama demasiadamente Cadê o baú de sentimentos Tigelas são quebradas a cada susto O vento na janela me assusta Desenhei um ponto escuro Um ponto escuro dirá o quê Sei lá o que pode dizer um ponto escuro Acho melhor olhar os lírios E não querer saber por que choram.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 14/10/2019
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