Despedida para seu João
Plantaram seu João na terra ainda há pouco. Ele que eu na minha infância o tinha pelo homenzinho das vacas e dos carneiros. Foi ele quem me ajudou a ficar curada da coqueluche tirando o leite do peito da vaca direto para o meu caneco de alumínio. As pessoas precisam partir desse mundo. Todos passaremos por isso, um dia. Ele agora vai reencontrar a sua amada esposa dona Gileuda. Foi rápida a sua partida como rápido é o nascer do arco-íris no céu. Um bom homem. Seu João sempre foi amado por todos. Deixará muitas saudades. Os seus bichos já devem estar sentindo a sua falta. A sua vaquinha certamente dormirá mais cedo nesta noite. Tem gente que é tão linda que não enterramos, mas plantamos na terra fértil talvez inconscientemente na esperança de que nasçam outras iguais a ela. Seu João e a sua vaquinha ficarão nas minhas melhores lembranças. O pai que manteve os filhos sempre ao seu lado morando todos em casas-irmãs. O homem religioso crente de Padre Cícero. O amigo de muitos. A última vez que vi seu João foi quando ele passava em frente à minha casa apressado. A gente nunca sabe que será a última vez senão eu teria dado-lhe um abraço e agradecido por ter feito parte da minha tão linda infância. Eu que tanto tinha medo da vaquinha de seu João e que me acordava cedinho para tomar leite quentinho tirado do peito da vaca. Ele todo carinhoso me dizia para eu não ter medo. Lembro agora que sempre quis desenhar uma vaca, mas nunca consegui. E agora as vacas me trarão a saudosa lembrança de seu João. Que nasça uma grande árvore onde o senhor foi plantado e que ela nos dê muitos frutos chamados Joãozinhos das vaquinhas. Que esses frutos mudem o mundo e as pessoas para melhor. Eu não fui me despedir do senhor, porque hoje escolhi viver a minha infância ao seu lado, perdoe-me, ainda vive em mim o seu João das vaquinhas. Há plantas que crescem rápido, espero que o senhor possa crescer em nossos corações todos os dias das nossas vidas com os seus exemplos de homem digno. Obrigada, seu João, por ser planta em minha alma de mulher-menina.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 26/10/2019
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