Rosângela Trajano

Nasce uma estrela sempre que se escreve uma poesia

Textos

A páscoa da boneca Ceci
 
Era uma vez uma boneca abandonada, largada no meio do tempo, da solidão, das nuvens e da lua.
Sem saber se estava viva de verdade caminhava à procura de qualquer coisa sem também saber o que queria. Algumas vezes confundimos a vida com a morte, isso acontece mais quando não sentimos emoções dentro de nós, como: raiva, choro, alegria.
Dizem que as pessoas só andam, sem saber para onde querem ir, sem saber o que querem de verdade, tem pessoas que nem sabe para onde vão... só andam... e andam... algumas andam em círculos outras andam em linha reta... e ainda há aquelas que andam para trás pensando somente no passado.
A boneca Ceci achava que tinha morrido. Estavam com ela todos os motivos do mundo para pensar aquilo. Deixou de amar e ser amada. Quando a gente deixa de amar, parece que a gente morre. Dentro da gente não fica nada, só um buraco bem grande, que cabe o mundo dentro dele.
Para a boneca Ceci, ser abandonada por sua dona que virou adulta não era coisa fácil, porque como entender o motivo dos adultos largarem seus brinquedos? O abandono nos mata, também. Há muitas coisas que nos mata nessa vida e a gente fica se perguntando como é morrer a todo instante, se a gente vive morto em algum sonho deixado de lado ou em alguma brincadeira que nunca mais se viveu ou em alguém que nos deixou de amar.
Alguns jovens estão morrendo com o uso das drogas e isso é muito triste, morre-se lentamente quem usa drogas, morre-se aos poucos, devagar, como quem caminha para um lugar sem luz própria, como quem avança o sinal ou anda na contramão. As drogas prejudicam a vida dos usuários de maneira tal que esquecemos dos nossos pais, amigos e parentes próximos, esquecemos de nós, esquecemos que existe uma alma dentro da gente gritando para que sigamos uma outra estrada, a estrada da perseverança. A boneca Ceci se entristece ao ver jovens largados no mundo das drogas, abandonados dos seus lares, abandonados dos seus próprios corpos, abandonados de si, abandonados de suas almas. É triste ser dependente de uma droga, mas você pode pedir ajuda e sair dessa situação a qualquer momento, basta olhar para dentro de você e vê o vazio que cresceu aí dentro, o buraco enorme que as drogas cavou dentro da sua alma, seus lábios rosados tremem ao falar e suas mãos querem tocar outas mãos à procura de uma salvação.  A boneca Ceci nesse mundo das drogas pensa estar morta assim como você, mas há uma solução para os seus problemas, basta acreditar na força que há dentro de cada um de nós.
Até que um dia nesse mundo de pensar estar morta a boneca Ceci encontrou um monte de meninos e meninas que gostavam de brincar de videogame. E foi ser menina ou menino junto com aquela garotada, toda feliz.
As crianças que a boneca Ceci encontrou não sabiam que havia outras brincadeiras no passado e que pareciam ter morrido junto com o tempo, então ela convidou os pais de todas as crianças para lembrarem das brincadeiras de esconde-esconde, ciranda, passa anel, pé quente, pula corda, cadê o grilo e amarelinha.
Pela primeira vez, depois de muitos anos, a boneca Ceci sentiu seu coração palpitar, o suor descer pelo rosto, as mãos a se agitarem, os pezinhos a dançarem e o cheiro de menino que se parece com cheiro de estrela.
Há quem diga que a boneca Ceci ressuscitou naquele dia, ou seja, deixou de estar morta para sentir-se viva novamente.
A ressurreição também é a gente esquecer todas as nossas raivas, tristezas, brigas com os amigos, vontade de não querer ir mais só para não sofrer, pedir desculpas, querer muito ser feliz e reinventar brincadeiras de antigamente.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 11/01/2020


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras