Rosângela Trajano

Nasce uma estrela sempre que se escreve uma poesia

Textos

Girassóis

Retirei de mim um fogo com brasas de idéias sem nomes.
 
Atrás do relâmpago guardei meus segredos indefesos das guerras Napoleônicas.
 
O prato de comida vazio...a miséria dos meninos africanos era igual a miséria dos meus rastros despidos de vontade.
 
Eu gostava de olhar pés descalços, porque eles contavam histórias de labutas árduas.
 
Eu gostava de olhar à lua. E quando a lua estava minguante eu pensava, comigo, ela está sorrindo para mim.
 
Aí vinha a lua cheia e eu ficava admirando meu rosto cansado e sofrido da indisciplina dos meus sentimentos.
 
E, no dia 18 de junho, desenhavam um sorriso tímido na minha alma.
 
Caminhava para lugar nenhum.
 
Talvez procurasse estrelas...
 
Abri a caixa de fósforos para acender-me.
 
Fui uma formiga diante da multidão barulhenta.
 
Fui uma ave de rapina presa no alçapão do menino do sertão. E ele sorriu...ele sorriu.
 
Adorava as bonecas de pano que vovó me costurava.
 
Adorava as bonecas de porcelanas nas vitrinas alheias.
 
Sentei-me no cais só para dar adeus aos navios que levavam meus sonhos de menina e, de repente, me vi mulher.
 
Fiz barquinhos de papel e me imaginei num cruzeiro de luzes e aplausos. Sempre estive só. Meus barquinhos morreram na praia.
 
Fui noiva de ninguém e rasguei o vestido à porta da igreja.
 
Ao padre confessei meus pecados de menina-moça que anseia o primeiro beijo. Beijei o padre!
 
Tereza, a puta da minha rua, saía todas as noites para vender o corpo e eu ficava me perguntando se ela era feliz.
 
Enquanto Tereza vendia o corpo o homem da esquina vendia pipocas num sorriso sem dentes.
 
O tamanco era pequeno e eu o queria para mim.
 
Mas a porta fechada me negou enxergar o outro lado da vida que nunca me apresentaram.
 
O outro lado da vida eu senti hoje, na velhice, numa tarde onde os girassóis dançaram para mim.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 14/01/2020


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