Madrugada sem sensações
Tiram de mim todas as flores Não posso mais sorrir ao acaso Nem às estrelas cadentes O sol se pôs sem conversar comigo A última canção ficou na alma Despida de sensações estranhas Eu nem sei se tenho sensações Sou a quinta estação do ano Sem florir ou ventar... apenas sou E ir ser algo aqui já é grande demais para mim Que não tenho muitas pretensões Talvez queira um quartinho Com uma mesa e uma cadeira Para escrever-me um pouco O líquido que banha a vida Derramou no mar de Adamastor Ressurjo feito janela que se abre Às quatro da manhã com porquês na alma O canto do pássaro do vizinho diz-me que não estou sozinha E eu cá tomo uma xícara de café Sem açúcar porque acabou A rua dorme e eu rio dela Sou a parte da noite que tem sensações E eu não tenho nenhuma Apesar disso sinto-me relógio do tempo Ao tocar o velho piano no meio da madrugada As ideias nascem órfãs e eu estou morta. Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 17/01/2020
Alterado em 17/01/2020 |