O último carinho
Eras um amor feito pássaro Frágil como grão de açúcar Eu te peguei com cuidado E te coloquei no peito Cresceste lá dentro Outros mundos quiseste conhecer Pássaros precisam voar, pensei E te deixei seguir destino Nunca mais voltaste à terra tua Cartas nunca mandaste Notícias não chegaram Como boa amante deixei sempre A porta encostadinha e sem chaves Esperei os séculos dos mortos cessarem Para descobrir que tu nunca mais voltarias A tua roupa lavada cheira a mofo Retirei a aliança ontem à noite Dez mil anos doei à velhice O meu amor é grande demais As ruas da saudade estão vazias Tomo chá para dormir O outro lado da cama está frio E o silêncio da casa só é quebrado pelo velho relógio da parede São sete horas e mais tarde irá chover Os teus chinelos ainda no tapete da varanda rezam às flores mortas todas as manhãs Insisto em colocar dois pratos na mesa na hora do jantar O amor dói, mas é o elixir da vida minha Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 25/01/2020
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