Vestida de saudades
Levaram embora a escrivaninha Pisaram no jardim e feriram as flores O meu amor chorou no parto Pariu três gotículas de solidão Resgatei o último quadro da sinceridade Nas entrelinhas do tempo líquido Recebi das tuas mãos a aliança de volta Não chorei, te deixei partir Com uma mala nas mãos Calçado de chinelos de couro Repeti para mim corpos celestes Nunca choram, voam nos céus Estou nua de sorrisos Inventei guerras dentro de mim Já não tenho soldados para lutarem Perdi a guerra, as guerras não valem nada São feitas para medirem as forças que os homens têm Depois de ti eu não tenho mais forças Nem para abraçar uma flor Sou dragão velho e abandonado Esta porta aberta te espera Casa amarela brota amor nas paredes Eu me risco na saudade do arco-íris Construo duas torres para abraçar as nuvens solteiras Quero ser a amante do céu Esquecer o teu relógio de ouro Teu sorriso de rasgar histórias Contadas ao mundo das crianças A última ciranda foi para Zeus E eu desci a escadaria da favela Com um gato preto miando nas pernas Deixaste o rádio ligado e um par de tênis sujo O rio sabe do sal da minha vida... Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 25/02/2020
Alterado em 26/02/2020 |