O menino do bem - Tercetos
Ele levava Nas costas A feira de dona Maria Criava uma galinha Que cacarejava À sua vizinha Comia um pedaço De melancia A outra dava ao irmão Rezava baixinho Para o mundo Ser melhor Gostava de visitar Velhinhos nos abrigos Da sua cidadezinha Cuidava da horta De seu Francisco Quando ele chorava Nunca se cansava De pedir a Deus Saúde pro seu cãozinho Perdoava o amigo Que lhe batia Na volta da escola Comprava dois sorvetes Um pra si Outro pro amiguinho Descia a escadaria Da sua favela Para pegar água à dona Maria Dava o recado Assim apressado De dona Cema Nunca falava Palavrões Apenas palavrinhas: fé Juntava o lixo Das avenidas Da cidade grande Sabia como ninguém Fazer sorrir O homem enraivado Era medroso Mas quando rezava Ficava corajoso Sonhava com aves Presas em gaiolas Pela manhã as soltava Tinha dois corações Um batia rápido O outro só dormia Ouvia a mamãe Cabisbaixo Levava bronca Nunca respondia Aos seus pais O livro bem lia Confessava seus pecados Ao bom padre Levava leite para ele Levava bolo Quentinho À vovozinha Gostava de ajudar Pessoas carentes Dando-lhes pijamas Nunca esquecia De agradecer A quem o ajudava Saía de casa Ao meio-dia Para ajudar o padeiro Andava quilômetros Para regar Sua plantinha Corria a favela Para avisar Do fogo no barraco Andava à procurar Tanajuras para doar Ao pedinte faminto Nunca se cansava De ajudar A faxineira da escola Sorriso de janelinha À sua vizinha Que cortava as bolas Cócegas fazia Nos pés da irmã Para sua dor passar Era tímido Mas tecia ao pescador Redes de pescar Carne não comia Preferia ovos Bichos sofrem Limpava o carro Do advogado Sem cobrar um trocado Cortava o cabelo Da velhinha Que não tinha dinheiro Fazia bordados Com dona Maria Vendia na feira Não tinha dúvidas O seu amor Doava à flor Ainda chovendo De frio se tremendo Ia comprar o pão Dizia aos seus pais Que a gente deve Amar muito mais Quando a professora Cansada sentava Ele o quadro limpava Tarde da noite Contava histórias À irmã com insônia Pedaço de queijo Levava ao pedreiro Todas as tardes Ensinava a lição De matemática Ao mais velho irmão Fazia curativos Nos bichinhos Da sua casa Tomava banho Com pouca água Para não gastar demais Ajudava a mamãe Lavar a louça Do jantar Costurava as camisas Do time de futebol Onde jogava bola Do tamanho de nada Louvava ao Senhor Em cânticos gloriosos Nunca mexia Nos fósforos Era cuidadoso Esperava o carro Do lixo passar Ao gari cumprimentava No circo de lona Ajudou o palhaço A se maquiar No ônibus cheio Dava seu lugar Ao bom velhinho Retira lixo Dos rios Com uma pazinha Conversa Com as aves Mortas no chão Determinado Alcança A paz mundial Há estrelas Que precisam Do carinho dele Em risinhos Meigos Acaricia o vento Suas bolhinhas De sabão Penteiam corações maus Seus desenhos Gatos sem olhos Alegram os anjinhos Faz dormir Assustado gatinho Com o seu carinho Com o seu papai Dava banho nos gatos Depois os enxugava Todo domingo Visitava os enfermos Do hospital da sua cidade Nas suas preces Pedia à Nossa Senhora A cura da sua mãe Escrevia cartinhas Ao homem das montanhas Cheias de florzinhas Quando a sua vaquinha Mugia na chuva Ele a levava pro quarto Era tristonho Na reunião De família Magrinho Caroço de feijão Vomitava Ficava no escuro Olhando o céu Pela janela Brincava sozinho Com sua bola Não tinha alegria Tinha uma perna Deficiente Sofria Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 27/07/2020
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