A menina do mercadinho
Era uma vez uma menina que ia ao mercadinho mais de vinte vezes ao dia. O que ela comprava tanto? O que trazia na sua mochila cheia? Ninguém sabia. Ninguém via. Nem dinheiro ela tinha para comprar coisas. A menina entrava no mercadinho, pegava a cestinha e saía colocando açúcar, feijão, tomates, macarrão, laranjas, batatas, maçãs, pimentões, bananas e repolho dentro dela. Às vezes, a cesta ficava tão pesada que saía empurrando com os pés. Aquela menina só comprava alimentos e frutas. Nada de bagana. Nada de biscoitos recheados ou comida enlatada. Era tudo natural. Quando chegava no caixa do mercadinho sempre acontecia a mesma coisa, ou seja, passava as compras e na hora de pagar colocava a mão na bolso furado e não vinha nada, mentia dizendo que tinha perdido o dinheiro. Não tinha o dinheiro, mas tinha fome e queria comprar todos aqueles alimentos. Como sempre, o segurança puxava-a pelo braço e a colocava para fora do mercadinho, aborrecido com o número de vezes que precisou fazer aquilo. Vinha gente reclamar de todos os cantos da vizinhança, do jeito que o segurança puxava a menina para fora do mercadinho, porém ninguém a ajudava. Ficavam a olhar a menina sentada na calçada, chorando a sua fome. Gente de gravata, gente de salto alto, gente de batom que parecia saciar o ego com aquela cena. Então, a menina enchia a sua sacola de pedras fingindo que eram os alimentos e as frutas que tanto desejara comprar. E quando chegava em casa com a mochila pesada, a sua mãe perguntava-lhe se tinha sobrado troco. Lavava as pedras, colocava-as na geladeiras e com três delas fazia uma sopa. A menina acordava no dia seguinte com a barriga vazia e corria para o mercadinho a fim de comprar comida sem dinheiro. Ela tinha a esperança de que um dia encontraria dinheiro nos bolsos do seu shortinho. Pois não é que no dia de Natal, na maior compra que a menina fizera, seus bolsos estavam cheios de moedas, apesar de furados! Pôde comprar toda a comida para fazer uma ceia bem gostosa e teve o Natal mais lindo da sua vida. Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 02/08/2020
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