Uma menina solitária
Perambulava pelas ruas escuras dos seus sonhos sem saber nada de si. A vida não era grata com ela. Perdeu tudo o que tinha numa enchente, e lamentou não ter conhecido Noé. Até o seu porquinho foi embora nas águas bravas. Sobrou-lhe um tiquinho de esperança no peito. Pegou o seu urso e foi passear nos sonhos alheios para ver se ganhava um de presente. Quando deixamos de sonhar é como se tivéssemos morrido, pensava a menina na sua pequena idade. Ela bem sabia o que era a morte, essa coisa que leva pra longe tudo o que a gente ama. De tudo o que morreu, a menina colocou luto pro seu porquinho verde. Verde igual planta. Verde igual folha de árvore. Era melhor perambular mesmo à procura de vaga-lumes pelas vielas daquela cidade fedida. Sua vida cheirava mais. Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 10/08/2020
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