Rosângela Trajano

Nasce uma estrela sempre que se escreve uma poesia

Textos


A menina e o antropólogo

Era uma vez uma menina que vendia bolos todos os dias, inclusive aos domingos.
Tinha muitos clientes. Vendia bolos para o sol, a lua, os gatos e cachorros de ruas. Precisava vender bolos, pois em casa não tinha comida.
Nas suas andanças por um bairro cheio de meninos encontrou um homenzinho magro, de chapéu de palha e pés enormes.
- Olá! Quer comprar bolo?
- Quanto custa?
- 1,00.
- Dê-me a bacia inteira.
- Tudo?!!! Vai comprar tudo?
- Sim! Vou! Gosto muito de bolos!
A menina viu que o homem olhava atentamente as pessoas subindo e descendo as ladeiras. Tirou o dinheiro do bolso e pagou sem nem olhar para ela.
- Vejo que está muito ocupado.
- Estou estudando a sociedade e as culturas humanas.
- O senhor é um antropólogo?
- Como sabe que sou um antropólogo?
- Ah! Porque quem estuda essas coisas são os antropólogos. Não é mesmo?
- Huummm! Verdade! Um antropólogo se preocupa com tudo isso.
- Sociedade eu sei que é um povo que vive junto e seguem normas e leis estabelecidas. Mas o que é cultura?
- A cultura são todos os nossos costumes, crenças, religiões. Nos dias atuais, as culturas estão se misturando. Algumas sociedades ainda têm suas culturas bem próprias. Hummm! Seu bolo é muito gostoso, menininha!
- Obrigada! O povo da minha avó tinha costumes bem diferentes dos nossos. Eles dançavam e cantavam quando morria alguém.
- Pois é! Temos que respeitar as culturas alheias. Você já ouviu falar em ETNOCENTRISMO?
- Vixe! Que palavra grande! Eu não sou acostumada com essas palavras enormes! Gosto das palavras pequeninas. O que quer dizer essa palavra? Me ajude a soletrá-la, por favor.
- E-T-N-O-C-E-C-E-N-T-RI-S-M-O.
- E-T-N-O-C-E-N-T-R-I-S-M-O? Ufa! Quase não sai!
- É quando um povo toma atitudes nas quais consideram seus hábitos e condutas superiores aos de outrem. Isso é muito sério!
- Sério mesmo! Muitos povos fazem isso!
- O etnocentrismo não pode ser aceito pelo povo.
- Verdade! Gosto que respeitem os costumes do meu povo. Seu antropólogo, tenho que ir. O sol já vestiu o seu pijama.
- Até mais, menininha! Vá em paz!
- Até mais! Voltarei para vender mais bolos e conversarmos sobre a antropologia.
- Estarei sempre por aqui observando o meu povo.
A menina saiu toda feliz com os bolsinhos cheios de moeda. Atrás dela um gato miava. Estava tarde. Tinha que correr para casa. A sua casa era o melhor lugar do mundo depois de conhecer tantos lugares.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 24/08/2020
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