Perdi o meu amor
Ao meu amor, com carinho. Amor que nunca esquecerei. Perdi o meu amor quão relâmpago que passa rapidamente Fim inesperado na minha vida operária de ilusões. Eu perdi os crepúsculos das tardes de inverno As folhas trazidas pelo vento de outono As flores coloridas da primavera que nunca observei Os dias quentes de verão sempre a reclamar do calor. Perdi o cheiro da natureza viva Em quadros de natureza morta vislumbrei Perdi muito e com isso esqueci a beleza das coisas ao meu redor. Como nunca tive o sentimento de posse Custei a acreditar que aquele amor fosse meu Aos poucos fui me acostumando com ele no meu coração De pequeno tornou-se um gigante em mim E meio bizarra fui me apossando daquele sentimento Que chamo agora de meu, porque para senti-lo em todas as suas vestes trago o choque da sua descoberta grandiosa... e se possuí algo na vida foi o meu amor...não me julguem se faço-os pensar em egoísmo, pois no fundo penso ser dona de um amor único no mundo, morador em mim, correndo nas minhas veias atrás das luzes minhas. Perdi o meu amor para os astros não sei se do dia ou da noite. Escrever para mim é mais doloroso ainda do que a sua perda, pois enquanto escrevo as lembranças me chegam rasgando meus sentidos, desbravando emoções muitas. Eu que não sabia o que era amar Fazia anos... sim, muitos anos. As pessoas querem a razão O método cartesiano de Descartes Os juízos a priori de Kant Eu quis a fenomenologia de Foucault Ser consciente de alguma coisa ao menos Ou quem sabe ter a intenção de ser Esqueci do seu ensinamento sobre o cuidado de si Entreguei-me ao descuido... meu amor foi descuidado Assim agi sem saber a noção do que fazia Acreditando está certa... pura imaginação Loucura rápida que se apodera da alma E nos rouba a sensatez, a paciência, a tolerância Desobedecendo o sinal vermelho da avenida das minhas virtudes Surdez minha apedrejada em praça pública pela ironia de mim. Estou com o meu pássaro Sem a sombra do meu cajueiro Olho o pôr do sol e penso no amanhã. Tinha esquecido como era amar Ontem chorei tanto que ardem meus olhos Quis voltar... mas olhei o relógio e era tarde Demasiadamente tarde o meu retorno. Ah! Tempo, tempo, tempo...quem me dera Poder está no ontem e desenhá-lo de outra forma Com sol, sorrisos, cores, pincéis, céu azul E poder falar com Deus nos finais de tardes Ao lado do meu amor que tem olhos reluzentes Olhos que acolhem risos perdidos E nos faz sorrir sorrateiramente... que gostoso! Dei gargalhadas Meu amor tem nos olhos o horizonte E coração de criança que faz peraltices. A mão que eu segurava ao dormir desapareceu Estou cortada por dentro em mil pedaços Deus, Deus, Deus...eu te fiz tantos pedidos Onde estavas meu Pai que não me ouviste? Ah! Pássaro meu como quis ter as suas asas ontem à noite Na hora do arrependimento poder num voo retornar Aos braços frágeis do meu amor maior. Choro, choro, choro sim, todas as minhas lágrimas Já não sei quem sou olhando-me no espelho Eu que desaprendera amar na escola da vida Por que permiti repetir a lição em que sempre fui reprovada? Por quê? Por quê? Por que, meu Deus? Da janelinha do meu quarto olho a lua E o último dia ao lado do meu amor está no ontem Não tenho mais os seus beijos ternos A leveza das suas mãos ao tocar o meu corpo. Caí num poço sem água de cabeça para baixo É um tormento ouvir o adeus de quem se ama Esquecer o carinhoso e íntimo apelido. Meu amor agora pertence ao mundo Sou soldado de volta para casa depois de uma batalha perdida A nódoa cinza manchou a minha alma. Perdi o meu amor às dezoito horas de ontem Faço questão de registrar o exato momento. Que culpa tenho eu de ser diferente dos outros? Foge de mim o amor que ontem era meu E meu pranto molha a roupa seca que esqueci no varal Preciso reaprender a viver só. A voz do meu amor me fez falta nesta tarde Como gostaria de ter ouvido as suas palavras Repetidas palavras, palavras que embalavam o seu pensar O meu amor gosta de falar, de ouvir o canto das palavras Na minha incompreensão muitas vezes quis o silêncio Mas hoje eu escutaria todas as palavras do meu amor A noite toda... toda a noite... a noite toda Que pena! E lembrar que reclamei suas tantas conversas Deixei meu amor em monólogos distantes de mim. Meu amor é um pássaro em gaiola de si precisando de zelo. Eis-me, ó vida, tu que és senhora de mim Fazes dessa tua escrava o que quiseres. Rezo a última Ave-Maria do meu terço Deus, Senhor dos senhores, escutai-me Preces poderosas viajem aos céus Rogo pelo meu inefestável amor à porta da igreja fechada. Preste atenção, meu amor, me ouça, por favor Acredite que meu mal é não saber viver sem você Tempestades em mim acusam um sofrer acorrentado em lembranças Estou só... sozinha no mundo... dentro do meu simulacro Sorrindo aos parentes curiosos por saber o que sinto E para você, meu amor, digo sentir um aperto no peito Ávida por teu amor... arrependida assim estou. Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 28/09/2020
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