Eu mulher negra da periferia
Nunca antes compreendida Olho o relógio parado Para esquecer a dor da opressão Quando, enfim, gritei os lobos nasceram dentro e fora de mim A mulher negra que sou tem infinitos abertos aos céus de outono Não pisei em nenhuma flor para crescer Também não matei pássaros para ser ninho Quiseram embranquecer a minha poesia Fui largada no meio do verso pelos tigres Iansã guardou-me da maldade Amaram-me pelo que idealizaram de mim Eu também tenho defeitos e vestidos rasgados Não porque sou preta Mas porque sou humana e piso em pedras sempre Esqueci a lamparina acesa e o querosene acabou Eu sou a preta pobre que come feijão com arroz pra soluçar lutas A sua tinta vai pintar muros cegos e não minhas ideias Vivo entre um tropo e uma oração de terço Esta mulher preta borda esperança em chão de ninguém É preciso ser tempestade à branquitude Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 11/06/2021
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