nasci mulher negra
perto de mim um mangue busca respirar sonhos não sou anéis mortos mas busco o néctar da terra entre maldades ao meu povo largo o tropo ao vento sou casca de noz linha de fazer rede de pescar a outra de mim grita insiste na batalha dessa negra pele oprimida, doída, esquecida eu deixei os lábios do céu com cores no amanhecer da caverna de Platão sou a lama do mangue onde brotam os aratus não terço saberes, mas vivências o quinto olhar de Descartes ainda vai descobrir que existe para além do pensar ando escondida de mim mesma nas mãos uma dúvida faz ninho há de se colocar roupas no tempo não sei muito contar datas, logo a minha idade pertence aos deuses indígenas Sim, sou Xingu e vivo na floresta do homem bom O vento é amigo do mangue e varre o lixo eu venço o meu caos depois da meia noite mulheres minhas nunca dormem além da lua preciso de sonhos para poder viver mais a estrela sonolenta olha o mangue ela é a senhorinha da madrugada que conta histórias eu sou mulher negra e pertenço à lutas seculares alumia a esperança em mim , Iansã tua filha tem receio de enterrar a ave morta no caminho é o bem viver a flor que acaricia o chão Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 14/06/2021
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