a vendedora de flores
não sabia contar dinheiro era uma menininha risonha qualquer moedinha estava bom também as flores eram arrancadas do jardim do vizinho só corria o risco dele comer-lhe seu coração mas talvez nem gostasse quem vai gostar de um coração doído com sabor de limão a menininha sofreu quedas ao longo do seu caminhar tropeçou no desespero e no abandono nunca teve casa para morar e nem meias para calçar vendia flores para comprar pão quando lhe perguntavam quanto era levantava o dedinho e dizia sorridente "uma moedinha" com aquela moedinha matava a sua fome roubar as flores do vizinho tinha uma justificativa séria e as pessoas grandes gostam de coisas sérias ela precisava de comida... aquilo era muito sério para uma menininha largada na rua, na vida, na noite, na virada do século dona de um coração despido de sonhos e de alegrias dentro de si o que sorria era apenas as cócegas sentidas na barriga quando seu gato corria por cima dela e mais nada no entanto, isso para ela era muito e a vida continuava a doer, a gemer, a bater na menininha é preciso guardar numa caixa os farrapos sem nem saber para quê mas guardava tudo numa caixa velha de sapatos lá dentro guardava a flor murcha que nunca quis vender por que? porque sim dizia a menininha abraçando-a no peito sim! o amor não tem explicação... ama-se apenas Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 08/07/2021
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