Rosângela Trajano

Nasce uma estrela sempre que se escreve uma poesia

Textos


enganaram a menininha
dizendo que voltavam
ficou sozinha com a sua dor
sentada no meio fio
da avenida movimentada
carros passavam em velocidade
pessoas caminhavam apressadas
a estação do metrô era ali perto
seu coraçãozinho doía
ou era a barriga vazia
deixaram com ela um vidro de perfume,
um sabonete e um creme de dental
o tanto que queria era amor
nem sabia o que era viver na verdade
com sete anos de idade só pensava em brincar
naquela avenida não tinha crianças
nem parquinho por perto
estava com fome e o corpinho dizia
estava com sede e o corpinho dizia
assustada chorava bastante
o mundo tornou-se enorme para ela ali naquela avenida
os carros buzinavam, a multidão falava alto, o metrô apitava
só a menininha era silêncio eterno
as lágrimas diziam quase tudo o que da boca não saía
conseguiu falar algo quando a chuva veio
"quero ir para casa"
quem a ouviu? quem a ouviu?
prédios não ouvem menininhas abandonadas
estações vazias também não
quando a noite chega tudo se cala
o medo vem mais forte
antes eram os dragões que a assustavam
agora tinha tanto medo que nem sabia do quê
o pezinho coçou no sapatinho vermelho
os bracinhos estirados esperavam um abraço de qualquer pessoa
falar com estranhos...tudo era estranho aos olhos seus, por isso tanto medo tremia o corpinho magro
fechou os olhos para acordar dentro de uma casa e dormiu... dormiu...
era inverno e a menininha não acordou mais
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 09/07/2021
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