enganaram a menininha
dizendo que voltavam ficou sozinha com a sua dor sentada no meio fio da avenida movimentada carros passavam em velocidade pessoas caminhavam apressadas a estação do metrô era ali perto seu coraçãozinho doía ou era a barriga vazia deixaram com ela um vidro de perfume, um sabonete e um creme de dental o tanto que queria era amor nem sabia o que era viver na verdade com sete anos de idade só pensava em brincar naquela avenida não tinha crianças nem parquinho por perto estava com fome e o corpinho dizia estava com sede e o corpinho dizia assustada chorava bastante o mundo tornou-se enorme para ela ali naquela avenida os carros buzinavam, a multidão falava alto, o metrô apitava só a menininha era silêncio eterno as lágrimas diziam quase tudo o que da boca não saía conseguiu falar algo quando a chuva veio "quero ir para casa" quem a ouviu? quem a ouviu? prédios não ouvem menininhas abandonadas estações vazias também não quando a noite chega tudo se cala o medo vem mais forte antes eram os dragões que a assustavam agora tinha tanto medo que nem sabia do quê o pezinho coçou no sapatinho vermelho os bracinhos estirados esperavam um abraço de qualquer pessoa falar com estranhos...tudo era estranho aos olhos seus, por isso tanto medo tremia o corpinho magro fechou os olhos para acordar dentro de uma casa e dormiu... dormiu... era inverno e a menininha não acordou mais Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 09/07/2021
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