Rosângela Trajano

Nasce uma estrela sempre que se escreve uma poesia

Textos


Natal-RN, 26 de julho de 2017.

Carta à menina do porquinho

Querida menininha,

Como vai você? Como vai o seu porquinho? Fiquei muito feliz em saber que você está criando um porquinho. Eles são animais dóceis e nos dão muito carinho. Você diz na sua cartinha que ele passou a ser o seu melhor amigo, fiquei muito feliz com essa notícia!
Logo eu que não tenho amigos de verdade, os meus amigos são todos imaginários. Fiquei pensando no seu porquinho e como ele deve ser um bom ouvinte. Porquinhos são silenciosos e gostam de ouvir o outro.
Menininha, cuide bem do seu porquinho sempre. Somos responsáveis pelos animais que criamos, é a mesma coisa de quando fazemos amizade com os adultos tornamo-nos responsáveis por eles. Apesar dos adultos serem meio incompreensíveis, às vezes. Eu, particularmente, nunca compreendi um adulto.
A minha vida sempre foi voltada para os meus amigos imaginários e o melhor deles é uma galinha a quem dei o nome de Dalva. A minha galinha Dalva vive cacarejando. Penso eu que ela reclama da minha morada ser do lado do sol, não sei. Eu e Dalva gostamos um do outro e isso é o mais importante, apesar dos seus cacarejos quando o sol brilha alto ao meio-dia.
Uma coisa me deixou triste na sua cartinha. Você conta que na fazenda dos seus pais eles abatem os porquinhos para comerem assados e você chora quando isso acontece. Não quero que chore.
Não tente compreender as pessoas grandes, elas têm cajus nas cabeças. Ninguém vai matar o seu porquinho, porque ele é somente seu. Muitas coisas na vida não podem ser somente nossas, mas o seu porquinho pode. Basta você cuidar dele com carinho e se tornará dona do seu coração.
Sabe, menininha, eu ando meio tristonha com os seres humanos. Tanta violência no mundo, tantas crianças passando fome, tantos adultos julgados inocentemente… eu não queria ser um juiz, penso que não saberia julgar ninguém.
Nunca julgue o seu porquinho se acaso ele cometer algum erro, é muito difícil ser julgado. Você agora vai passar as suas tardes de inverno com companhia e isso é maravilhoso. Eu continuo sozinha na minha casinha ouvindo o barulho da chuva no telhado quando ela vem nas tardes de verão.
O seu porquinho gosta da chuva? Conte-me mais sobre ele. Você me disse que ele gosta de comer cocadas! Achei estranho, porém ele é um porquinho que gosta das doçuras da vida.
Tenho que terminar a minha cartinha, menininha. A chaleira grita no fogão e eu preciso tomar o meu chá da tarde. Estou faminta. Escreva para mim assim que puder e me mande um desenho do seu porquinho, daqueles desenhos que só você sabe fazer.

Um abraço,
A sua poeta.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 10/08/2021
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