Mortos
nos cemitérios abandonados
os mortos vestem os séculos o mato alto cobre a sepultura não há velas acesas muitos mortos anônimos em sepulturas sem cruzes é o esquecimento de tudo o que um dia foi não temos mais saudades vivemos como se fôssemos máquinas enferrujadas nossos corações não se alegram mais com quem volta depois de anos desconhecemos os nossos próprios sentimentos os mortos gritam suas ausências mas estamos surdos para eles o retrato velho foi jogado no lixo o sapato usado uma única vez foi doado para alguém qualquer não visitamos cemitérios mais nem no dia dos mortos os ossos esquecidos lá longe choram o passar das horas que matam o pouco do que ficou no rastro do chão
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 21/06/2022
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