Rosângela Trajano

Nasce uma estrela sempre que se escreve uma poesia

Textos


A menina do cestinho de palha

Rosângela Trajano       

 

 

Todos os dias, pela manhã bem cedinho, a rainha da Dinamarca ia tomar banho no rio que tinha perto do seu castelo.

Naquele dia não foi diferente. Pegou a sua cesta de frutas, chamou a sua escrava mais amada e foram para o rio.

Estava a princesa sentada às margens do rio quando viu um cestinho de palha dentro das águas

- Tifany, veja! Pegue aquele cestinho!

- Só um momento, majestade!

A rainha ficou à espera da escrava Tifany pegar o cestinho de palha e quando ela o trouxe até ela, teve uma linda surpresa

- É uma menina!

- É preta!

- Que importa, Tifany?

- A senhora vai ficar com ela?

- Claro que sim! Será criada como a minha filha!

- O rei não vai permitir! Ele é racista! Só gosta de gente branca!

- Eu não me importo com o rei! A menina está chorando! Deve estar com fome! Vamos para casa! Vou me vestir!

A rainha levou a menininha e o seu cestinho para o palácio. Num primeiro momento, ela escondeu do rei o que tinha acontecido. Queria prepará-lo bem, pois sabia do seu preconceito com o povo negro do reino.

Enquanto isso, a menina ficou guardada nos aposentos da escrava. A rainha sempre que podia ia vê-la e comprou para ela roupinhas e brinquedos os mais bonitos. Ela devia ter uns cinco a sete meses. Era linda! Bem pretinha de olhos da cor de jabuticaba! A rainha costumava niná-la em seus braços.

No dia do seu aniversário, o rei deu um banquete para vários convidados de reinos distantes e ao seu lado lhe disse

- Minha amada rainha, peça-me o que você quiser e eu lhe darei!

- O senhor me daria qualquer coisa mesmo, meu amado rei?

- Posso lhe dar metade do meu reino!

- Eu tenho um pedido a lhe fazer, meu rei!

- Peça-me, minha rainha! Peça-me o que quiser que eu lhe darei!

- Quero criar uma menina negra aqui no palácio como nossa filha!

- Uma menina negra?! De onde você tirou essa ideia? Sabe que odeio negros!

A rainha contou toda a história da menina para o rei que ficou meio comovido e disse

- Eu aceito que ela seja criada no palácio, mas longe de mim! E que viva com a criadagem!

- Não, meu rei! Quero-a como filha! Será a nossa princesa!

- De jeito nenhum! Será criada junto com os demais escravos e nunca passará na minha frente!

- Tudo bem! Seja feita a vossa vontade, majestade!

A rainha trouxe a menina para a grande cozinha onde ficavam os escravos e ali ela viveu toda a sua infância sem poder brincar no jardim do palácio ou andar por ele. Vivia presa na cozinha enquanto a rainha lhe cobria de mimos e pensava numa ideia para amansar o coração do rei, mas nada lhe vinha à cabeça.

Certa noite, o rei viu um rato no seu quarto e ele morria de medo deles, então gritou como nunca e todos dormiam até a rainha. Só a menina estava acordada e ouviu os gritos do rei. Ela já tinha mais ou menos sete anos e veio correndo ver o que acontecia

- Majestade, o que está havendo?

- Tem um rato neste quarto! Tire-o daqui!

A menina pegou o rato pelo rabo e o levou para longe. Depois voltou para a cozinha e foi dormir junto com os demais escravos.

Pela manhã, o rei quis saber mais da menina que era criada no palácio junto com os demais escravos e a rainha lhe contou de como ela estava grande e inteligente. O rei quis saber se ela era a menina que tinha lhe salvado do rato e a mandou buscar

- Aqui está a minha menina, majestade!

- Rainha, a sua filha é linda!

- Sim! Ela é linda!

- É pretinha, mas isso não importa! Foi ela quem tirou o rato do meu quarto ontem à noite!

- E os guardas do palácio onde estavam?

- Não sei! Todos caíram num sono profundo depois do banquete! Acho que beberam muito vinho ontem à noite! Eu gritei e ninguém me ouviu nem você, minha rainha! Quero que esta menina seja criada com muito amor e ao nosso lado a partir de hoje. Qual o nome dela?

- Titi! Seu nome é Titi!

- Titi, sente-se aqui!

- É o canto da mamãe!

- Sente-se no colo da mamãe!

- Eu posso lhe chamar de papai?

- Acho que sim! Quer dizer, eu não sei! O que acha, minha rainha?

- Era tudo o que eu mais queria que o senhor, meu rei, aceitasse!

- Então, me chame de papai! E a partir de hoje vou decretar que toda pessoa negra seja tratada humanamente no meu reino e ninguém deve sofrer preconceito ou racismo! Quem praticar o racismo será enforcado!

- Não precisa enforcar ninguém, majestade! Basta dá os cascudos na pessoa que ela vai parar de praticar racismo!

- Titi, você é muito inteligente! É isso mesmo que deseja?

- Sim, meu rei e pai!

- Então, no decreto escrevam que quem praticar racismo ou preconceito no meu reino levará 10 cascudos! O que acha, Titi?

- Está bom! Eu fico feliz que me ame, majestade!

- Você é a nossa princesa! E será criada com todo o amor do mundo!

Assim, Titi cresceu no castelo do rei da Dinamarca cheia de luxo e brinquedos bonitos. A partir daquele dia, ela pôde correr pelo jardim e pular no lago com a rainha. O que Titi mais gostava era de correr atrás das hienas e dos patos. O rei ficava olhando pela janela a felicidade de Titi e sorria, apenas sorria ao vê-la brincar.

 

Exercícios para o bom pensar.

1 – O que você achou da historinha?

2 – O que você achou do gesto da rainha ao achar o cesto?

3 – Por que o rei não aceitou a menina entre eles?

4 – O rei era racista. Comente.

5 – A rainha ficou triste com a atitude do rei. Comente.

6 – As pessoas racistas fazem coisas que doem nos negros. Comente.

7 – Titi foi esperta pegando o rato. Comente.

8 – Como você acha que o coração do rei ficou ao saber que Titi era a menina do cesto?

9 – O rei enfraqueceu o seu coração ao saber da história de Titi? Comente.

10 – Desenhe o que mais gostou na historinha.

Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 15/11/2024
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